O tratamento do caldo é uma das etapas mais determinantes no processo de fabricação do açúcar. É nele que se definem fatores como cor, pureza e rendimento, influenciando diretamente a qualidade final do produto e a eficiência industrial da usina.
Um tratamento bem conduzido garante que o caldo siga para as próximas etapas: evaporação, cristalização e secagem, com o mínimo de impurezas possível. O resultado é um açúcar mais branco, estável e com menor custo de produção.
Por que o tratamento do caldo é essencial?
Logo após a extração, o caldo da cana apresenta uma mistura complexa de compostos orgânicos e inorgânicos: partículas sólidas, fibras finas, terra, colóides, corantes naturais e metais.
Sem um tratamento adequado, essas impurezas seguem o fluxo produtivo, causando formação de incrustações, aumento de viscosidade e elevação da cor do açúcar, além de dificultar a transferência de calor nas etapas seguintes.
O tratamento do caldo é o primeiro grande ponto de controle da qualidade industrial. Quando bem ajustado, ele reduz as perdas de sacarose, melhora o desempenho dos equipamentos e otimiza o consumo energético.
Etapas fundamentais
O processo é formado por uma sequência de operações físicas e químicas, cada uma com papel específico para a purificação do caldo:
1. Peneiramento
A primeira barreira contra impurezas sólidas. Remove bagaço grosso, areia e partículas que podem danificar bombas ou entupir trocadores de calor.
2. Sulfitação
Etapa que utiliza gás sulfuroso (SO₂) para reduzir compostos corantes e facilitar a coagulação de colóides. Quando controlada corretamente, contribui para melhor cor e estabilidade do caldo.
Importante: Para produção de açúcares VHP (açúcar bruto) não ocorre a etapa de sulfitação.
3. Calagem
A adição de cal hidratada ajusta o pH e provoca a precipitação de impurezas. O equilíbrio entre pH e temperatura é decisivo: se o pH for muito alto, há risco de inversão de sacarose; se for baixo, a clarificação perde eficiência.
4. Aquecimento
Ao elevar a temperatura do caldo, aumentam-se as reações de coagulação e sedimentação. Essa etapa também reduz a viscosidade, o que melhora o desempenho dos decantadores.
5. Decantação e filtração
Na etapa de decantação, o caldo clarificado é separado do lodo, que concentra as impurezas e parte do açúcar retido no processo. Em seguida, esse lodo é encaminhado para a filtração, onde é desidratado e convertido na torta de filtro.
Um trabalho bem conduzido nessas duas etapas é essencial para minimizar o açúcar que acaba retido nessa torta. A torta resultante pode ser utilizada como adubação na lavoura, retornando nutrientes para a própria cana.
Benefícios diretos
As usinas que mantêm controle rigoroso sobre as etapas do tratamento do caldo observam ganhos expressivos em várias frentes:
- Melhor qualidade do açúcar, com coloração mais clara e estável;
- Menor perda de sacarose, graças à recuperação eficiente no lodo e torta de filtro;
- Redução do consumo de vapor e energia, por facilitar a transferência térmica;
- Maior disponibilidade operacional, evitando incrustações e paradas não programadas;
- Mais eficiência no cozimento e cristalização, garantindo um produto final de padrão superior.
Em um cenário de competitividade crescente, esses resultados se traduzem em produtividade, economia e sustentabilidade industrial.
Tecnologia e automação: o novo diferencial
A automação dos processos de dosagem de cal, enxofre e polímeros tem se mostrado uma grande aliada da eficiência. Sensores de pH e temperatura em linha, aliados a sistemas automáticos de controle, reduzem a variabilidade operacional e asseguram repetibilidade no tratamento do caldo.
Um pilar da qualidade industrial
Mais do que uma etapa obrigatória, o tratamento do caldo é um pilar da eficiência e da qualidade na fabricação de açúcar.
Cada detalhe, da peneira inicial à decantação, influencia o desempenho global da usina e o valor comercial do produto final.
Investir em tecnologia, capacitação e controle contínuo é o caminho mais seguro para produzir um açúcar de alta pureza, com menor custo e maior valor agregado.