A cana-de-açúcar ainda é a base da produção de etanol no Brasil e, por isso, a qualidade da matéria-prima define grande parte da eficiência do processo industrial. Uma cana com bons indicadores de pureza e outros atributos (baixo nível de contaminação bacteriana, e baixos níveis de Dextrana e Leveduras Contaminantes), garantem maior rendimento e menor geração de subprodutos indesejados. Já uma matéria-prima de baixa qualidade pode comprometer desde a fermentação até a destilação, aumentando perdas e custos.
Parâmetros Fundamentais da Qualidade da Cana
Para avaliar a qualidade da cana recebida pela usina, alguns parâmetros laboratoriais são indispensáveis:
- POL (teor de sacarose aparente): quanto maior o valor, maior a disponibilidade de sacarose para conversão em etanol.
- Brix: mede a concentração total de sólidos solúveis no caldo, incluindo sacarose e açúcares redutores.
- Pureza (POL/Brix × 100): indica a proporção de sacarose em relação ao total de sólidos solúveis. Uma pureza elevada significa caldo mais limpo e eficiente para processamento.
- ATR (açúcares totais recuperáveis): representa a soma da sacarose estimada e dos açúcares redutores, refletindo o potencial real da cana para produção de açúcar e etanol.
- Fibras: altos teores dificultam a extração do caldo fazendo com que parte do açúcar de perca no bagaço.
- Açúcares redutores (glicose e frutose): em excesso, podem prejudicar a fermentação e reduzir a eficiência do processo.
Impactos da Qualidade da Cana no Processo Industrial
A precisão nas análises desses parâmetros é essencial para a tomada de decisões no setor industrial. Uma interpretação correta dos números permite:
- Ajustar o preparo do mosto e a fermentação, evitando formação de subprodutos e garantindo maior conversão em etanol.
- Monitorar perdas na extração, torta e águas industriais, assegurando que os açúcares da matéria-prima sejam aproveitados ao máximo.
- Aprimorar cálculos de eficiência e rendimento, fundamentais para avaliar o desempenho da destilaria.
- Integrar o setor agrícola e o industrial, garantindo que o corte, transporte e moagem preservem a qualidade inicial da cana.

Fatores que Afetam a Qualidade da Cana
Além das características varietais e do ponto de maturação, a cana pode ser impactada por fatores externos, incluindo pragas e doenças. Um exemplo importante é o complexo broca–podridão, que ocorre quando a broca-da-cana perfura o colmo, permitindo a entrada de fungos e bactérias que causam podridões. Essa combinação prejudica a qualidade do caldo, reduzindo sacarose, pureza e rendimento industrial.
Outros fatores incluem:
- Tempo entre corte e moagem: atrasos favorecem a inversão da sacarose em açúcares redutores.
- Impurezas minerais e vegetais: aumentam a carga de sólidos indesejados no processo.
- Condições climáticas: excesso de chuvas próximo à colheita pode diluir açúcares no caldo, afetando pureza e ATR.
Gestão de Parâmetros para Produzir Etanol de Alta Qualidade
Gerenciar a qualidade da cana vai além da simples análise laboratorial: exige transformar os resultados em decisões práticas para manter a eficiência da usina. Isso só é possível quando existe integração entre setores e profissionais capacitados para interpretar os números com precisão.
Entre as principais práticas estão:
- Implantar métodos de controle confiáveis e bem calibrados, assegurando análises consistentes.
- Capacitar a equipe para interpretar resultados e agir rapidamente, entendendo os impactos no preparo do mosto, fermentação e destilação.
- Utilizar indicadores dos processos em tempo real, antecipando problemas e reduzindo perdas.
- Manter comunicação constante entre setores agrícola, laboratorial e industrial, alinhando estratégias com base em uma linguagem comum de indicadores.
A capacitação garante que cada parâmetro analisado seja transformado em ação prática, resultando em etanol de maior qualidade, menores perdas e maior competitividade para a usina.
Conclusão
A qualidade da cana é o ponto de partida para uma produção de etanol eficiente e sustentável. Monitorar parâmetros como POL, ATR, pureza e fibras, além de compreender a fundo seus impactos no processo, permite maximizar rendimentos e reduzir perdas. Gerenciar esses indicadores com precisão transforma números em resultados concretos: etanol de alta qualidade, maior competitividade e melhor aproveitamento da matéria-prima.